24 de abr. de 2009

Encontro em 23 de abril de 2009 (no ateliê de Rosa Esteves)

presentes: Luise, Valéria, Rosa, Claudia, Rosana, Cássia, Lucia Loeb, Lucia Bittencourt, Sueli, Reinaldo.

1- Rosa apresentou seus trabalhos em seu ateliê o que permitiu uma compreensão melhor de sua trajetória como artista.
Nutritivas- Argila moldada em forma de corpo com sementes implantadas que brotam, crescem e morrem com a desidratação da peça.
Vídeo- Visto como uma "finalização" do trabalho Nutritivas é o registro da devolução das peças à natureza e sua decomposição na água. Outros vídeos estão programados utilizando outros elementos: fogo, terra e ar.
Em seu trabalho sempre utilizou a gravura e cerâmica como meio de expressão e os temas do corpo, do universo feminino, das deusas, do primitivo são uma constante. São imagens recorrentes que são trabalhadas e retrabalhadas sempre em formas redondas, um,a constante desde que trabalhou com as conchas (década de 1980 e inicio dos anos 1990).
Dedica-se nos últimos 5 anos a pesquisar uma tia bisavó que foi educadora e ficou 37 anos internada no Pinel. A memória deste parente, imagens, escritos e relatos são sua matéria prima para uma futura exposição/ instalação.
Vídeo de 1991 de Rosa Esteves e Cássia Gonçalves na exposição Impressões Impressas na Itaú Galeria onde mostram os meios para obtenção das estampas exibidas.
Rosa entregou aos participantes o texto Grete Stern: Anotações sobre Fotomontagem, exposição que foi divulgada por ela no último encontro.
Ver texto Corpo Comestível Anotações Poéticas ao final desta postagem
Ver video Nutritivas: http://www.youtube.com/watch?v=zH3n6ov2Ep8

2- Cláudia Tatit apresentou três novas pinturas sendo duas acrílicas sobre tecido (aprox. 100 x 200cm) e um óleo sobre tecido inacabado (aprox. 80 x 120 cm). Detectamos que a cor do seu trabalho (fortemente submersa em branco nos trabalhos do mestrado- 2008)estão vindo à tona. Novas formas aparecem com vigor em fundo de tons pastéis obtidos à partir do esmaecimento de cores fortes por camadas de branco diluído. Talvez reflitam uma nova fase em sintonia com sua vida pessoal.
Ela apresentou uma série de desenhos com linhas sinuosas feita à partir de visão aérea de rios (google earth). Utilizou ecoline sobre papel vegetal permitindo transparência por sobreposição dos trabalhos que vistos pelo avesso ficam um pouco esmaecidos, mais parecidos com o efeito obtido na pintura.

Luise comenta sobre a pintura e a dificuldade de saber quando parar. A questão da solidão e do silêncio para o momento da criação é explorado por Marguerite Duras* no livro Escrever que contém três contos.
*- Marguerite Duras (4 de abril de 1914, Indochina Francesa (hoje Vietnã) - 3 de março de 1996), foi uma escritora e diretora de filmes.
"Escrever é também não falar. É calar-se. É gritar sem fazer ruído."




3- Sueli apresentou as impressões em papel fotográfico das imagens que serviram de base para os trabalhos apresentados no último encontro. O comentário geral é que as imagens fotográficas obtidas tinham uma poesia noturna singular e eram, em si, um trabalho interessante.

4- Lucia Bittencourt mostrou colagens na qual explora o tema da passagem do tempo e sua relação com o corpo feminino ( e seu próprio corpo, tema do mestrado- 2008).
De forma surreal ela compõe imagens poderosas em que explora sua temática. Longe de aleatórias as montagens são cuidadosas onde a narrativa contida não se sobrepõe à questão estética.
Reapresentou seus trabalhos em acetato e vidro com imagens manipuladas do seu rosto que sobrepostas criam profundidade, nos sentidos físico e metafórico.

5- Texto oferecido por Rosa Esteves:
Corpo comestível
anotações poéticas
Rosa Esteves
Pedaços de um corpo feminino moldados em chocolate e marzipã.
Peitos, bocas, colo, púbis..., em tamanho reduzido ou natural,
servidos sobre a mesa – um trabalho que atualiza o debate sobre as
difíceis relações entre arte e consumo na contemporaneidade. Contra
o fetichismo da saúde, o culto ao músculo-espetáculo, a experiência
aqui é a do registro delével de um corpo que se configura à margem
das armadilhas narcísicas, a salvo das imagens prontas,
convencionais, colocadas à nossa disposição pelos imperativos da
propaganda, da beleza serializada. Experiência que se prende ainda à
recuperação de uma certa imagem do feminino num momento
histórico em que as distinções de gênero se esbatem, em que o
erotismo deriva para o espaço da transexualidade, do charme
andrógino, do corpo-prótese e do gozo artificial. [...] Se o corpo é,
como queria Merleau-Ponty, a um só tempo vidente e visível, se a
relação corpo-mundo é de natureza estesiológica, havendo uma carne
do corpo e uma carne do mundo (e uma interioridade que se propaga
de um a outro), esses pedaços de corpo, impressões fósseis do mundo,
seguirão constituindo objetos internos bons, criando água em todas as
bocas do espírito.
Fabio Weintraub