8 de dez. de 2009

Encontro em 3 de dezembro de 2009.

Presentes: Lucia Loeb, Rosa Esteves, Claudia Tatit, Cassia Gonçalves, Leonor Decourt, Reinaldo Batista e Luise Weiss

1- Cássia informa de sua exposição na Bulgária a ser confirmada.


2- Reinaldo comunica participação do Projeto Circulando em Outras Dimensões em Exposição em Portugal.
http://CirculandoEmOutrasDimensoesLisboa2010.blogspot.com/

3- Apresentação dos trabalhos de Leonor Decourt

Leonor:
Sou arquiteta pela Universidade Braz Cubas de Mogi das Cruzes. Sempre gostei de Artes Plásticas. Fiz um curso de gravura em metal e nunca mais deixei as placas de lado. Há mais de 20 anos trabalho com a gravura, especialmente a gravura em metal.
Comecei fazendo paisagens. Quando morei em Brasília saia para desenhar. Andava com uma cadeira, e ia parando nos locais que me interessavam. Até nas avenidas movimentadas, colocava a cadeira no meio das “ilhas”, e com um caderninho ia desenhando as imagens que via. Passei a fazer gravuras a partir destes desenhos.
Nesta época estava sendo montado o Núcleo de Gravura da UnB (Universidade de Brasília) o qual passei a freqüentar.
Quando voltei a morar em São Paulo, comecei a freqüentar o Atelier de Gravura do Museu Lasar Segall. Nesta época, conheci a Cássia e a Rosa. Continuei desenhando paisagens. Só que agora ia ao Parque Ibirapuera.
Gosto da gravura pela possibilidade da repetição, característica principal da técnica. Mas o meu interesse está na diversidade da repetição. Variação tonal, intensidade de luz, cor, interpretação...
Luise: Estes desenhos você guardou?
Leonor: Guardei e também guardei as gravuras.
Cada vez fui gostando mais da gravura. Meu trabalho passou a se desenvolver em cima de conceitos.
O primeiro conceito foi sobre a repetição da matriz com resultados diferenciados: Múltiplos Singulares.
Fiz uma gravação e extrapolei ao máximo. Começou com uma gravura reproduzida normalmente. A partir de uma matriz gravada, formas diferenciadas foram criadas. Imprimi em papel hanhemülhe, em papel mulbery; Imprimi partes da imagem; colei uma imagem sobre a outra. Da reprodução fiel, bidimensional, até um objeto (tridimensional), vários trabalhos foram criados. Estes trabalhos fizeram parte da exposição de 1999, no Centro Cultural São Paulo.
Imprimi parte da matriz no papel Mulbery, bem fino. Fiz uma estrutura de papel Hahnemüle (papel para gravura alemão). Prendi a gravura nesta estrutura. O papel fino ficava voando.

Foto caminhante.

Fiz uma caixa em acrílico, no qual o tampo era reprodução de uma parte da matriz. Dentro da caixa, uma folha de hanhemülhe reproduzia outro pedaço da matriz. Uma luz sobre a caixa reproduzia a impressão do acrílico sobre o papel. Era a reprodução da reprodução. Esta exposição foi em 1999, período no qual comecei a usar o acrílico.

Foto Os dois lados

Luise: O acrílico era usado como matriz?
Leonor: O acrílico era usado como reprodução da matriz nos trabalhos feitos em 1999. Agora uso o acrílico como matriz.
Formei um grupo no Rio. Fizemos uma exposição, na qual participaram artistas de São Paulo, do Rio, que foi chamada de “JOG – Recriação artística de jogos”.




Cada artista fazia a representação de um jogo com a idéia de fazer da gravura uma representação tridimensional. Tenho uma parte deste trabalho aqui comigo. Eu fiz o “ TANGRAM” e aqui, (aponta para uma determinada parte do trabalho) tem uma dobra. É uma imagem do TANGRAM que tem que ser manipulada. Ela é triangular, são 3 triângulos que se combinam.
O meu trabalho como um todo segue esta linha de raciocínio, como sendo uma parte de um jogo. Uma parte de combinação de uma imagem com outra, formando uma terceira imagem.
Quando eu falei de Brasília e São Paulo, eu desenhava muito a paisagem, enfocando viadutos, estradas, os buracos. Comecei a perceber (2006) que meu assunto era a passagem. Novamente extrapolei o tema: das passagens desenhadas, a passagem maior seria sair do papel pequeno para uma estrutura maior. Do trabalho emoldurado para um sem moldura. Da passagem da matriz para o papel através da prensa, para uma imagem “passada” do acrílico para a parede através da luz. Fazia todo sentido o nome “passagem” .
Eu queria crescer. Aumentar o tamanho da cópia impressa. Minha prensa tem o tamanho de 50 cm x 1 m. Tive então vontade de expandir. Logo em seguida surgiu a oportunidade de fazer uma exposição. Foi então que vi fotos dos trabalhos de Cássia Gonçalves, expostos em 2005 na exposição que se chamou Grafo -esculturas transparentes e havia a também a minha referência do acrílico (1999). Aí eu pensei e fiz o meu trabalho direto no acrílico.
Primeiramente achei que os trabalhos da Cássia tinham sido feitos no poliestireno (plástico grosso).
A minha exposição foi feita em um espaço pequeno, no Rio de Janeiro, em uma região que não é de galerias de arte e nem mesmo tem um aspecto comercial. Considerei a exposição, por todos estes motivos como um “ensaio”, uma prévia para a realização dos trabalhos vindouros.
Fui pesquisar – pensando que os trabalhos da Cássia foram feitos no poliestireno – se havia a possibilidade de emoldurar trabalhos feitos neste material e ao chegar no moldureiro, quando mostrei pessoalmente o material, ele disse que não era possível emoldurar. Estava já com o prazo para a execução dos trabalhos no limite. Foi quando decidi usar o “acrílico”, pois queria a gravura da forma como ela é feita, só que ao invés de usar metal, usei o acrílico, fiz as imagens, entintei, limpei e complementei a exibição destes trabalhos com a projeção da luz. Este trabalho (mostra um protótipo) foi feito em acrílico, aqui está em uma pequena dimensão.
Tinha uma luz projetando as imagens da placa de acrílico na parede. Os trabalhos de chão foram feitos em acrílico com espessura de 8 mm.

Foto da exposição Travessia.

Fiz uma série, a luz projetava as imagens na parede da galeria, de baixo para cima surgindo como resultado a sombra na parede.
Luise: Pergunta se a artista conhece um trabalho que a Salete Mulin fez????????
Leonor: Cartografias??????????
Luise: Era uma série de artistas................, criaram jogos................
Leonor: Eu estava neste grupo, foi o trabalho que citei que se chamou “JOG”. A idéia foi minha, e participaram deste trabalho, artistas tais como: Helena Freddi, Salete Mulin, uma artista da Argentina, duas da Itália e artistas do Rio e São Paulo, sendo ao todo 14 artistas. Cada artista escolheu um jogo para representar. Curiosamente não houve repetição de nenhum jogo. Cada artista fez o projeto de um jogo, tinha as regras pertinentes deste jogo. Fizemos também uma suíte, que resultou em um álbum que fez parte da exposição. Por exemplo, o trabalho do Augusto Sampaio, ele escolheu o jogo das varetas que resultou em trabalhos posteriores.
Faço muito essa parte conceitual. Fiz alguns livros, e tem uma série que quero viabilizar com a serigrafia, chamada “Múltipla Escolha”. São imagens triangulares, compridas que dependendo da dobra ela fica completamente diferente e se transforma em objeto. Então é dar para a gravura além do aspecto bidimensional uma característica tridimensional, ser um objeto. A gravura é o veículo.





Tem aqui também como exemplo do meu trabalho alguns “livrinhos”. Este aqui, Partitura para Metais é uma um conceito traçando um paralelo entre música e gravura. Na gravura, o registro é a matriz. Na música, o registro é a partitura. A partir daí fiz muitas correlações entre elas.




Então eu tenho uma partitura musical que é um registro: pode ser tocada por qualquer pessoa que saiba ler música, por qualquer intérprete. Não importa a época que seja impressa ou tocada. Os registros é que valem. Aí fiz 4 matrizes que se auto combinam.Resultou em um livro e além do livro fiz uma instalação com um papel super fininho.



Foto partitura para metais instalação Washington.

Começa com uma cor clara, como se fosse um “pianíssimo” e as imagens do fundo – para exposição feita na GRAPHIAS/SP – são só 4 notas, como se fossem as notas musicais, não fiz as sete notas porque achei que seriam muitas.
Aí as imagens vão ganhando cor e se modificando. A colocação de um elemento a mais é como na música, você coloca um instrumento a mais, e a diferença dos papéis é como se fosse a diferença dos instrumentos. Você toca uma música no piano e essa mesma música tocada na flauta é uma coisa completamente diferente.
Então muda completamente as imagens. Partitura para Metais foram feitos 10 exemplares, mais as PAs, um para a Helena Freddi (impressora) e uma H.C. (fora de comercialização). Expus também em Washington no Instituto Brasileiro de Arte Contemporânea (BACID).

Luise: Você já mostrou isso para alguma pessoa da área de música?
Leonor: Não.
Luise: Seria uma experiência interessante!
Leonor: Não quis fazer o símbolo da nota especificamente para ficar literal.
Luise: As partituras contemporâneas são completamente diferentes.
Leonor: Só de mudar o lado da colocação da imagem e com uma cor diferente já dá outra leitura. Eu fiz uma versão o ano retrasado parecida com essa para uns livros, para uma Bienal de livro de artista na Lituânia.
O tema era Text. Fiz 3 livros: uma era o “ tipo”, como se fossem letras que se chamava “ Print type”, o nome de letras em inglês é print type, o tipo impresso. O segundo livro Words. É a “combinação” das letras-imagens. O terceiro, foi feito em papel fininho que mudava, virava para cima e para baixo, esse chamava Text.

Fiz também um projeto que gostei muito que eu já tinha começado a fazer em acrílico, e por conta da exposição que fiz na galeria do Rio, recebi um convite para participar de um evento que acontece no mês internacional da mulher chamado ZONA OCULTA, em um espaço que se chama CEDIM.



Fotos ZO zona oculta

Todo ano são chamadas 20-30 mulheres para esta exposição. Escolhi a parte de fora da galeria, um muro bem grande que há no espaço de fora. Fiz 7 placas de acrílico que eu iria colocar com a intenção de projetar a imagem. O muro deste local era bem alto, com 5-6m de altura. Resolvi usar parte deste espaço, o equivalente a 2, 40 m/ 2,50 m.
Fiz 7 pequenas placas pensando que ficando o dia inteiro, à noite teria luz artificial para iluminar as imagens e projetá-las no muro.Eu pensei em mudar a inclinação, cada uma vai ter uma inclinação . Se você olhar na lateral eles faziam um determinado movimento. De frente também tinha um movimento diferente, outra inclinação.
Ao montar a exposição percebemos que a luz do sol batia no trabalho o dia inteiro. Com isso, completou a obra. E a noite tinha projeção da iluminação artificial. Ficou completo. As placas tinham 45 cm x 60 cm. Este material foi ara a Bienal de Gravura Contemporânea de Liége-Bélgica.
Pediram as peças, e no transporte foram quebradas duas. Então para a montagem sugeri que se fizesse o seguinte: como o trabalho se chama “TECLADO”, que eles colocassem duas peças, dessem um espaço correspondente às peças que faltavam e pusesse as três restantes , ficando assim a representação das notas pretas.
Fiz no Rio, uma exposição anterior à da Bélgica, e a dona da galeria deixou que eu fizesse a montagem que tinha pensado, em uma sala foram colocados os trabalhos em acrílico e na outra sala os trabalhos em papel.
Trouxe também alguns livros que fiz, por ex. este que se chama “Rabbit Choice”, que foi para a Bienal da Lituânia.




O tema era o coelho e a casa. Pensei imediatamente no jogo dos parques de diversão, onde o coelho procura uma casa para se esconder. Tem um coelho representado, recortado e impresso que compõe o livro, o coelho é colocado no meio, entre as páginas. Ele é posto em pé, no meio do livro. Fiz uma tiragem de 4 livros deste trabalho, e como achei eu estava gráfico demais fiz uma versão menos gráfica. Esta outra versão. The Blue Rabbit É só o “coelho azul”.



Meus trabalhos são sempre assim, enfocando a série, os livros. As imagens da casa do coelho foram feitas em serigrafia. Para aproveitamento do papel, no qual foi impressa esta série, foi respeitado o tamanho do papel.
Luise : A gravura como livro fica muito interessante.
Leonor: Freqüentei além de ateliês de gravura, curso no Rio, de pintura com a artista Anna Bella Geiger. Mas sempre dirigia meu pensamento para a gravura.
Luise: Com quem você aprendeu gravura?
Leonor: Os principais professores foram o Evandro Carlos Jardim, quando voltei para São Paulo. Cláudio Mubarac. O Atelier de Gravura da UnB também foi muito importante.
Cássia: Quando a Leonor freqüentou o atelier de gravura da UnB, vários artistas de São Paulo foram até lá ministrar workshops, como o Nori Figueiredo, Cláudio Mubarac .
Leonor: lá também esteve um grupo de artistas de Edmonton - Canadá, mas observo que o enfoque deles é maior com a técnica. Os artistas brasileiros têm uma linguagem e poética mais forte.
Luise: os artistas brasileiros, gravadores têm uma tradição muito forte.
Luise: A questão do jogo, do lúdico, continua no seu trabalho?
Leonor: Continua. Tem um aspecto de brincadeira, onde as imagens mesmo não sendo tão gráficas, eu acabo unindo umas com as outras.
Luise: Você mostra a gravura também como objeto.
Leonor:Percebo que no meu percurso faço sempre a mesma coisa. A gente persegue sempre o mesmo objetivo. Os trabalhos feitos no acrílico agora em 2007, já existiam em 1999. O artista usa às vezes o mesmo material que outro artista, por ex. acrílico, que foi o que a Cássia usou na exposição de 2005, mas saem trabalhos completamente diferentes.
Essa abertura que se tem de usar o mesmo material, de aprender com o trabalho do outro é muito importante.
Luise: As encadernações foi você quem fez?
Leonor: Sim, fui eu quem fiz.