Participantes:
Reinaldo Batista, Sueli Vital, Rosa Esteves, Cássia Gonçalves, Lúcia Bittencourt, Valderez Frigo, Angela Lotaif, Cláudia Tatit, Márcia Sousa.
1- Apresentação dos trabalhos de Cláudia Tatit:
Luise Weiss:
Sugere à artista que comece a falar dessa etapa do trabalho apresentado, o que mudou, o que contribuiu para a mudança.
Cláudia Tatit:
É um desdobramento da pesquisa do mestrado. Destaca a relação entre o branco e a água. As formas agora estão mais fluidas, estão surgindo de maneira intuitiva, que tem a ver com o repertorio de imagens aquáticas, fluidas.
Luise Weiss:
Faz uma consideração entre águas turvas e águas claras. Entre mergulhar e abrir os olhos embaixo d´agua, agora são águas cristalinas.
Cláudia Tatit:
Surgiu a pergunta na qualificação se eu mergulhava, eu não mergulho.
Na pergunta foi abordada aminha relação com o mar, que é muito forte. Surgiu a necessidade de procurar artistas que tenham repertório semelhante ao meu, como a artista Janaina Tschäpe. Acho que o trabalho desta artista conversa com o meu. São formas aquáticas, da mitologia também.
Luise Weiss:
Existe algum trabalho especifico dela que você se refere?
Cláudia Tatit:
Trouxe comigo um catálogo de exposição feita pela artista no Paço das Artes/SP em 2006, exposição na qual a artista mostra formas mais aparentes, orgânicas, formas aquosas, embrionárias, botânicas.
Também aponto os trabalhos da artista Terry Winters, que usa formas que dialogam com meu trabalho. Sempre olho fotos de livros de biologia, lâminas de microscópio.
Vejo a água como início, na mitologia a água é o início de tudo. Desenho em folhas com tinta à óleo, com este material mais diluído. Antes cobria com branco o trabalho e isolava algumas partes deste. Agora todo o trabalho de pintura se abriu. Começo a fazer a pintura pelo fundo .
Luise Weiss:
Sugere que a artista comece a pensarem expor seu trabalho , a veicular para que as pessoas o vejam.
Cláudia Tatit:
Manifesta sua vontade de expor. Remete ao vazio oriental que antes era um vir a ser no trabalho e agora aparece como possibilidade. Também observa marcas que ficam na areia e quando vem a onda do mar,levam estas marcas embora.
Luise Weiss:
São metáforas do mergulho, contemplação da água.
Cláudia Tatit:
Cheguei a pensar em pesquisar o trabalho de artistas que trabalham com sonhos. Não vê seu trabalho como surreal. Tenho a sensação de floresta molhada, de mata, é um olhar de fora. Os meus desenhos me parecem agora mais moles, não duros. Os brancos são mais sensíveis.
Luise Weiss:
Tem uma conversa no seu trabalho entre a mancha e a linha , formas que surgem através da linha, pois a linha não é dura, porque tem movimento, tem uma reflexão em torno da espessura da linha. Tem a intensidade do branco, fatores que levam a pensar se a forma é mais rígida.
Linha e mancha (diálogo, desafio). Ora predomina uma, ora predomina outra.
2- Apresentação de trabalhos de Reinaldo Batista:
Começa a apresentação mostrando as fotos que está trabalhando no momento. Trabalha a questão da manipulação. Começa buscar fotos de azulejos portugueses e grafias árabes.
Está no momento pesquisando a caligrafia árabe.
A proposta do grupo que fez o trabalho: CIRCULANDO era montar um livro gigante, cada artista tem uma caixa com todos os trabalhos dos outros artistas, formando um conjunto.
O trabalho é feito antes no computador – a manipulação das fotos – e só depois trabalha esta imagem, cortando a foto, depois montando, então essas imagens vão ressuscitando. Estou pesquisando na internet o barroco e apareceram os azulejos portugueses e árabes.
Pego imagens na internet , manipulo as mesmas para dar uma característica de pintura.Defino 3 cores: azul, roxo e rosa, isto dá às imagens - por ex. aos azulejos - uma característica que não lhes são próprias, a não são cores de azulejos.
Há um retorno à pintura, pois antes as pinturas eram negras, com grafismos. Agora esta fase já está superada, se esgotou. Como recomeçar?
Fiz um caminho inverso, e comecei agora a usar a cor roxa ( vários roxos).Trabalha com a têmpera e pigmento sintético. Há uma sobreposição de camadas em têmpera (ovo).
Existe o gesto caligráfico que se repete, mas a proposta não é pré-definida. Mudei para as cores azul e vermelho para chegar ao roxo. O processo é oposto ao invés de colocar sempre resolvi tirar o pigmento.
Experiências monocromáticas com pigmento roxo mais pigmento perolizado, me encantam as nuances do branco.Os trabalhos tem de 3 a 8 camadas, dependendo do trabalho . Quando os trabalhos eram pretos, tinham a característica de um preto profundo.Trabalho com a tempera (3 ovos) , pele ,a clara, acrescento verniz de damar e óleo de cravo.Coloco tudo na batedeira.
Luise Weiss:
Questiona o por que da colocação dos trabalhos feitos, um ao lado do outro.
Reinaldo Batista:
As várias telas são uma só. Os trabalhos formam um conjunto. A idéia é sempre colocar um ao lado do outro. Trabalho com várias técnicas ao mesmo tempo, pois os trabalhos acontecem simultaneamente. A discussão se dá na relação profundidade / cor, com as nuances de brilho.Trabalho com os diferentes tons da mesma cor. A quantidade de pigmento é aleatória, pois não tem receita pré- determinada. Consigo as nuances de cor pela sobreposição das mesmas. O perolado funciona como um branco, estou lidando com os efeitos ópticos,e as camadas na tela começam a se desenhar.
Luise Weiss:
Cita o livro “ O Artífice – de Richard Sennett) Ed. Record - ) O livro fala do tempo de preparo, das técnicas artesanais, pois no tempo de preparo é um tempo onde a cabeça do artista está pensando, o artesanal não é improdutivo.O livro recupera a questão do artesanal e intelectual.